quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Martha Medeiros


VOCÊ É...

Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.

Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.

Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.

Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.

Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.

Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê

2 comentários:

  1. Queria voltar a minha infância, queria voltar a ser aquela pessoa inocente, que esperava papai-noel pra entregar presentes, que tinha medo das bruxas, que rezava pra dormir com meus pais, que fazia os adultos mais sérios sorrirem, que não conhecia o lado mal das pessoas, era tudo alegria. Hoje vivo só, longe dos pais, dos amigos de infância, da casinha que morava, vivo de nostalgia, "Hoje não sou nada ,acho que sempre serei um nada"

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  2. Com certeza, Paula... "Você é", ou melhor, nós somos exatamente tudo aquilo que vivemos, sentimos, construímos, aprendemos, ensinamos... pois é através das experiências da vida que escrevemos a nossa história e ao escrevê-la estamos diretamente nos formando enquanto pessoas, nos transformando, pois somos sujeito ativos do nosso processo de conhecimento, evolução, descobertas, construções... por que será que a medida que envelhecemos amadurecemos... já pensou sobre isso... acredito que o texto responde perfeitamente a essa pergunta... acredito que seja pelo fato de que nos tornamos naquilo que nossas experiências e vivências nos transformam... crescemos, amadurecemos a medida que vivemos... com certeza, não somos hoje igual a ontem... nem igual a amanhã... estamos em constantes transformações... e tudo aquilo que vivemos é transformado naquilo que somos... assim, para sermos basta apenas vivermos...

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