quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A função perversa dos contos de fada ( Regina Navarro)

          Não tenho dúvidas de que os contos de fadas são prejudiciais às crianças. Mas será que pais e professores se dão conta disso? Será que percebem quais tipos de ideias estão passando para as crianças, subliminarmente, por meio desses contos? Cinderela, Branca de Neve, Bela Adormecida. Modelos de heroínas românticas, que, ao contrário do que se poderia imaginar, no que diz respeito ao amor, ainda são parecidas com muitas mulheres de hoje. Mas isso não é à toa.
          A partir daí podemos entender melhor como as mulheres e as personagens femininas das histórias infantis foram se tornando passivas, submissas, dóceis e assexuadas. Em "Cinderela", "Branca de Neve" e "A Bela Adormecida" existem algumas mulheres que até fazem mágicas, mas a mensagem central não é a do poder feminino, e sim da impotência da mulher. O homem, ao contrário, é poderoso. Não só dirige todo o reino, como também tem o poder mágico de despertar a heroína do sono profundo com um simples beijo. Além da incompetência de lutar por si própria, comum às principais heroínas, Cinderela é enaltecida por ser explorada dia e noite, trabalhando sem reclamar e sem se rebelar contra as injustiças. Padece e chora em silêncio. Seu comportamento sofrido, parte do treinamento para se tornar a esposa submissa ideal, é recompensado: seu pé cabe direitinho no sapato e ela se casa com o príncipe.
          No entanto, o mais grave nos contos de fadas é a ideia de que as mulheres só podem ser salvas da miséria ou melhorar de vida por meio da relação com um homem. As meninas vão aprendendo, então, a ter fantasias de salvamento, em vez de desenvolver suas próprias capacidades e talentos. As heroínas das histórias estão sempre ansiosas em fazer o máximo para agradar ao homem, ser como ele deseja, e acreditam que adequar seu corpo à expectativa dele é fundamental. Não se esqueça de que Cinderela e todas as moças do reino tentam se ajustar ao sapatinho encontrado pelo príncipe — a madrasta orienta as filhas a cortar um pedaço do pé para corresponder ao que o homem espera delas.
          A historiadora americana Riane Eisler afirma que “essas histórias incutem nas mentes das meninas um roteiro feminino no qual lhes ensinam a ver seus corpos como bens de comércio para conseguirem pegar não um sujeito comum, mas um príncipe, status e riqueza. Em última análise a mensagem dos ‘inocentes’ contos de fadas, como Cinderela, é que não somente as prostitutas, mas todas as mulheres devem negociar seu corpo com homens de muitos recursos.”
           Em vez de desenvolver suas próprias potencialidades e buscar relações onde haja uma troca afetiva e sexual, em nível de igualdade com o parceiro, muitas mulheres se limitam a continuar fazendo tudo para encontrar o príncipe encantado.

Texto escrito pela sexóloga e Psicanalista Regina Navarro Lins retirado so site: http://delas.ig.com.br/

7 comentários:

  1. Olá Paula, para complementar este artigo tem um livro muito interessante chamado FADAS NO DIVÃ - Ed. Artmed. É uma visão psicanalítica dos contos de fadas muito bacana. Vale a pena
    Bjos, seu blog é muito enriquecedor

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  2. Paulinha! Confesso que fiquei como criança quando descobre que Papai Noel "não existe" ... aaaah era tão bom acreditar em "príncipe", rs
    Brincadeiras a parte, que perspectiva interessante! O texto é mesmo enriquecedor.bjs

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  3. Desculpe-me a sexóloga e psicanalista, mas irei discordar dela por completo. Talvez, ela tenha razão quando afirma na primeira frase que pais e professores irão discordar da ideia a qual ela defende. A criança constrói seu mundo e passa a perceber que é um ser social a partir, principalmente, do brincar, da interação. É através do faz de conta, dos jogos simbólicos que vão reproduzindo a realidade do mundo que está a sua volta - brincando de casinha, bandido e polícia, super-herói, tantos outros jogos simbólicos que elas utilizam para que possam construir e entender seu universo. É muito comum vermos um filho de médico brincar de médico, um filho de um policial bricar de prender bandido. É inerente a criança trazer para seu mundo imaginário situações do seu dia a dia, pois dessa forma elas vão tomando consciência do mundo que as cercam passando a compreender a dinâmica e a complexidade do universo dos adultos. E não é diferente com os Contos de Fadas. Com certeza, as histórias refletem cada momento da sociedade e não ao contrário, ou seja, não são as pessoas que passam a refletir o que estão nas histórias e sim essas refletem a sociedade, os valores do momento. "Cinderela", "Branca de Neve" e "A Bela Adormecida" existem dessa forma, ou seja, foram criadas submissas, fragéis, pois refletia um mundo machista, o qual as mulheres não tinham direito algum(se quer direitos tão básicos como estudar, votar - sei lá tantos outros) e não esquecendo que continuam dessa forma em pleno século XXI em muitos países do Oriente, inclusive sem direito ao prazer tendo até seus clitóres retirados - já imaginou a perversão do mundo - então, indago será que os contos de fadas fazem tudo isso. Banalizam a mulher, a tratam como mero objeto de prazer. Já pensou nas músicas (vixe!! desculpe, não, aquilo não é música - já pensou no funk, pagode, arrocha - e tantos outros que levam a mulher a condição de nada e o pior ainda se vê mulheres dançando e cantando isso está nos contos de fadas-NÃO-não são as histórias que transmitem esses valores para as crianças. É a prórpia sociedade que tem um machismo velado, um preconceito silencioso dizer que "essas histórias incutem nas mentes das meninas um roteiro feminino no qual lhes ensinam a ver seus corpos como bens de comércio para conseguirem pegar não um sujeito comum, mas um príncipe, status e riqueza" - aff! é um absurdo atribuir tanta responsabilidade a um simples conto de fadas será que tudo isso é aprendido nas histórias, nos contos de fadas. Nossa! é tamanha desproporção. Talvez, seja preciso observar mais a sociedade a qual estamos inseridos; o que ela quer do homem, da mulher; quais os valores que fundamenta, permeia, conduz essa sociedade... será que aprendemos a ser submissas, fragéis, mulher objeto com os contos de fadas ou essa é a condição que nos é imposta, a qual desde quando queimamos o sutiã não a queremos mais.

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  4. Seria interessante observar as histórias atuais, até os próprios desenhos animados, as novelas, aquele horror de Malhação como vêm apresentando uma perspectiva diferente, pois estão refletindo o mundo atual até os próprios contos de fadas não apresentam mais uma mulher como antes, nem um princípe como antes cito Shrek, Princesa Anastacia e tantos outros que gradativamente vão revelando o mundo, a sociedade a qual estamos inseridos. Por isso, não posso afirmar que são os contos de fadas que desenham a imagem dessa mulher e sim a sociedade modela a mulher que quer e cabe àquelas sábias mulheres romperem com esse paradigma. Vamos deixar para o conto de fadas a funçao que tem deleitar-se com a leitura, ter contato com a escrita, entrar no imaginário do universo letrado despido de qualquer forma de conceito ou pré-conceito. Por que não sonhar com um princípe ou dormir para esperá-lo (qual a mulher que no seu íntimo não tem esse desejo - e que vai naturalmente desaparecendo porque vamos nos tornando adultas) ou fugir do reino para escapar da bruxa malvada e ser protegido por seres indefesos. Acredito que é assim que as crianças enxergam os contos de fadas e não para se espelharem procurando ser daquela ou dessa forma. Então, registro apenas o meu ponto de vista e fica a reflexão e a certeza que existem mulheres que fazem a diferença rompendo com todo e qualquer modelo que a sociedade impõe e, talvez, essa ótica da autora seja permeada de conceitos construídos por nós adultos, sendo importante lembrar que as crianças vêem o mundo com outra perspectiva.

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  5. Achei interessante e enriquecedor justamente porque logo vi que seria polêmico! Tb não concordo completamente com a visão da psicanalista... Ysiendre, muito boa sua colocação! Bjs

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  6. Super interessante sua colocação Yse, na verdade concordo também com seu ponto de vista, mas também não deixo de concordar com a autora no sentido de que o mundo interno construido através de tudo que internalizamos, e para nós psicanalistas a infância é uma fase importante no formação da personalidade e assim também nas escolhas da pessoa em fases posteriores. A fantasia é muito importante para o pensar infantil, mas utopias como o do "viveram felizes para sempre, e ou " príncipes encantados que salvam frageis moças" , deveriam ser repensados. Mas realmente é um tema poêmico, interessante a troca de opiniões!!
    Bjs!!

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  7. Os contos de fadas, são importantes para que as crianças possam lidar com vários problemas internos (rejeição, a chegada de um irmão, inveja,abandono etc...).
    Antigamente esses contos eram tidos como de terror. Passados tempos as imagens mudaram ganharam um toque todo especial da Disney, e virou o sonho de toda menina.
    Muito além, do que está mencionado na postagem, os contos ajudam na superação de conflitos.

    gostei do blog, to seguindo.

    bjokas =)

    meusegredosbell.blogspot.com/‎

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